NÃO MATARÁS!
Quinto Mandamento
Não matarás
De Deus recebemos a existência, pois só n’Ele “está a fonte da vida” (Sl 35,10) e o poder de concedê-la ou de tirá-la é exclusivo do Criador. Quem ousará, então, interromper o curso de uma vida, antes do tempo desejado por Ele, sem incorrer em grave culpa?
No Antigo Testamento, Deus interpelou severamente a Caim, primeiro assassino da História: “Que fizeste! Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra. De ora em diante, serás maldito” (Gn 4,10-11). E, como expressão da lei natural que protege a vida humana, Ele estipulou no Decálogo: “Não matarás” (Ex 20,13).
No Novo Testamento, Nosso Senhor impediu o homicídio, por exemplo, ao socorrer a mulher pecadora que os fariseus queriam apedrejar: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra. […] Sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um. […] Vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Disse-lhe então Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar”. (Jo 8,7-11) O Divino Redentor veio abrindo-nos, também, uma nova e
ampla perspectiva, ao esclarecer a interioridade da prática deste mandamento: “Ouviste o que foi dito aos antigos: ‘não matarás! Aquele que matar terá de responder ao tribunal’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra o seu irmão terá de responder no tribunal. Aquele que disser a seu irmão: Raca [patife], será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo da geena” (Mt 5,21-22).
Com efeito, existe outra maneira de atentar contra o próximo, diversa da agressão física: o escândalo. Se é grave o delito de homicídio, porque fere o corpo, quanto mais grave é o escândalo, o qual tira a vida da alma, que é a graça! Cristo morreu na cruz para salvar as almas, e o escândalo visa perdê-las. Poucas expressões do Divino Mestre foram tão severas como esta: “Se alguém escandalizar um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai do homem que os causa!” (Mt. 18,6-7).
Sendo a vida material inferior à vida sobrenatural da alma, em certos casos o homem pode, e até deve, sacrificar a sua existência terrena por amor Àquele que também a deu por nós: “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará.” (Mc 8,34-36) . Tocante exemplo desse desprendimento deu-se na época das primeiras perseguições à Igreja, durante a qual incontáveis mártires derramaram seu sangue e entregaram suas vidas, para não renunciar à Fé.
As principais Virtudes requeridas para a prática deste mandamento são: a Caridade e as quatro denominadas Cardeais (do latim cardos – gonzo, sustentáculo), as quais norteiam nosso proceder e determinam nossos costumes. A Prudência nos faz conhecer o verdadeiro bem e escolher os meios mais aptos para alcançá-lo. A Justiça consiste em dar a cada um o que lhe corresponde. A Temperança regula os apetites, refreando as paixões e o uso imoderado daquilo que produz deleite aos sentidos. A Fortaleza inflama a vontade para que não desista de alcançar os bens desejados (Cf. Royo Marín, 2007). A virtude da Mansidão, derivada da Temperança, modera a ira. Sem embargo, em certas ocasiões, a ira, seguindo a reta razão iluminada pela fé, é legítima. (Cf. Royo Marín, 2007, p.449). Nosso Senhor, por exemplo, deixou transparecer a ira santa ao expulsar os vendilhões do templo, e ao lançar terríveis invectivas contra o orgulho e hipocrisia dos fariseus (Cf. Mt 23,13).
Os pecados que violam este mandamento voltam-se: contra a Caridade: escândalo (ato mau, em si ou na aparência, que pode levar o próximo a pecar). De muitas maneiras pode-se dar, como por exemplo: aconselhar um ato ilícito; pronunciar palavras indevidas; vestir-se impudicamente; zombar da piedade; dar maus exemplos reais ou aparentes. Para quem cometeu algum escândalo, é dever de justiça empenhar todo o esforço em afastar do mau caminho os que foram escandalizados. Entretanto, as conseqüências do escândalo são incalculáveis. Alguns meios para repará-lo são: rezar por todos os que direta ou indiretamente foram objeto dele; tomar atitudes opostas às que provocaram o mal; fazer todo o possível para promover a salvação das almas. Contra a Justiça: suicídio; homicídio e tudo quanto pode levar a ele (desejo da própria morte, vontade de matar, ódio, injúrias, vingança, pancadas, feridas ou mutilações) (Cf. Cauly, 1924, p. 272-275).
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