A história da medalha milagrosa ( 3 )
História das aparições de Nossa Senhora das Graças, em uma pequena sequência de posts, por ocasião de sua celebração litúrgica (27/11).
Continuação:
Nova confirmação: a “Comuna de Paris”
De fato, quatro décadas depois, no fim de 1870, a França e a Alemanha se enfrentaram num sangrento conflito, em que a superioridade de armamentos e de disciplina militar
deram às forças germânicas uma fulminante vitória sobre o mal treinado exército francês. Em conseqüência da derrota, novas convulsões político-sociais arrebentaram em Paris, perpetradas por um movimento conhecido sob o nome de “Comuna”. Tais desordens deram lugar a outras violentas perseguições religiosas.
Conforme Nossa Senhora previra, foi fuzilado no cárcere o Arcebispo de Paris, Monsenhor Darboy. Pouco depois, os rebeldes assassinaram vinte dominicanos e outros reféns, clérigos e soldados. Entretanto, os Lazaristas e as Filhas da Caridade mais uma vez atravessaram incólumes esse período de terror, exatamente como a Santíssima Virgem prometera a Santa Catarina: “Minha filha, conhecereis minha visita e a proteção de Deus e de São Vicente sobre as duas comunidades. Mas, não se dará o mesmo com outras Congregações.”
Enquanto as demais irmãs eram tomadas de pavor em meio aos insultos, injúrias e perseguições dos anarquistas da Comuna, Santa Catarina era a única a não ter medo: “Esperai” – dizia-, “a Virgem velará por nós… Não nos acontecerá nenhum mal!” E mesmo quando os desordeiros invadiram o convento das Filhas da Caridade e as expulsaram de lá, a santa vidente não apenas assegurou à Superiora que a própria Santíssima Virgem guardaria a casa intacta, mas previu que todas estariam de volta dentro de um mês, para celebrar a festa da Realeza de Maria. Ao retirar-se, Santa Catarina apanhou a coroa da imagem do jardim e disse a ela: “Eu voltarei para vos coroar no dia 31 de maio”.
Estas e outras revelações concernentes à Revolução da Comuna realizaram-se pontualmente, conforme foram anunciadas quarenta anos antes por Nossa Senhora.
Mas, retrocedamos àquela bendita noite de julho de 1830, na capela da rue du Bac. Após o encontro com a Mãe de Deus, Santa Catarina não cabia em si de tanta consolação e alegria. Ela recordaria mais tarde:
Não sei quanto tempo lá permaneci. Tudo o que sei é que, quando Nossa Senhora partiu, tive a impressão de que algo se apagava, e apenas percebi uma espécie de sombra que se dirigia para o lado da galeria, fazendo o mesmo percurso pelo qual Ela havia chegado. Levantei-me dos degraus do altar e vi o menino onde ele havia ficado. Disse-me:
– Ela partiu.
Retomamos o mesmo caminho, de novo todo iluminado, o menino conservando-se à minha esquerda. Creio que era meu Anjo da Guarda, que se tornara visível para me fazer contemplar a Santíssima Virgem, atendendo as insistentes súplicas que eu lhe fizera neste sentido. Ele estava vestido de branco e levava consigo uma luz miraculosa, ou seja, estava resplandecente de luz. Sua idade girava em torno de quatro ou cinco anos.
Retornando a meu leito (eram duas horas da manhã, pois ouvi soar a hora), não consegui mais dormir…
Segunda aparição: a Medalha Milagrosa
Quatro meses transcorreram desde aquela prodigiosa noite em que Santa Catarina contemplara pela primeira vez a Santíssima Virgem. Na inocente alma da religiosa cresciam as saudades daquele bendito encontro e o desejo intenso de que lhe fosse concedido de novo o augusto favor de rever a Mãe de Deus. E foi atendida.
Era 27 de novembro de 1830, sábado. Às cinco e meia da tarde, as Filhas da Caridade encontravam-se reunidas na sua capela da rue du Bac para o costumeiro período de meditação. Reinava perfeito silêncio nas fileiras das freiras e noviças. Como as demais, Catarina se mantinha em profundo recolhimento. De súbito…
Pareceu-me ouvir, do lado da galeria, um ruído como o frufru de um vestido de seda. Tendo olhado para esse lado, vi a Santíssima Virgem à altura do quadro de São José. De estatura média, sua face era tão bela que me seria impossível dizer sua beleza.
A Santíssima Virgem estava de pé, trajando um vestido de seda branco-aurora, feito segundo o modelo que se chama à la Vierge, mangas lisas, com um véu branco que Lhe cobria a cabeça e descia de cada lado até embaixo. Sob o véu, vi os cabelos repartidos ao meio, e por cima uma renda de mais ou menos três centímetros de altura, sem franzido, isto é, apoiada ligeiramente sobre os cabelos. O rosto bastante descoberto, os pés pousados sobre uma meia esfera. Nas mãos, elevadas à altura do estômago de maneira muito natural, Ela trazia uma esfera de ouro que representava o globo terrestre. Seus olhos estavam voltados para o Céu… Seu rosto era de uma incomparável formosura. Eu não saberia descrevê-lo…
De repente, percebi em seus dedos anéis revestidos de belíssimas pedras preciosas, cada uma mais linda que a outra, algumas maiores, outras menores, lançando raios para todos os lados, cada qual mais estupendo que o outro. Das pedras maiores partiam os mais magníficos fulgores, alargando-se à medida que desciam, o que enchia toda a parte inferior do lugar. Eu não via os pés de Nossa Senhora.
Nesse momento, quando eu estava contemplando a Santíssima Virgem, Ela baixou os olhos, fitando-me. E uma voz se fez ouvir no fundo de meu coração, dizendo estas palavras:
– A esfera que vês representa o mundo inteiro, especialmente a França… e cada pessoa em particular…
Não sei exprimir o que senti e o que vi nesse instante: o esplendor e a cintilação de raios tão maravilhosos…
– Estes (raios) são o símbolo das graças que Eu derramo sobre as pessoas que mas pedem – acrescentou Nossa Senhora, fazendo-me compreender quão agradável é rezar a Ela, quanto Ela é generosa para com seus devotos, quantas graças concede às pessoas que Lhas rogam, e que alegria Ela sente ao concedê-las.
– Os anéis dos quais não partem raios (dirá depois a Santíssima Virgem), simbolizam as graças que se esquecem de me pedir.
Nesse momento formou-se um quadro em torno de Nossa Senhora, um pouco oval, no alto do qual estavam as seguintes palavras: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”, escritas em letras de ouro.
Uma voz se fez ouvir então, dizendo-me:
– Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo. Todos os que a usarem, trazendo-a ao pescoço, receberão grandes graças. Estas serão abundantes para aqueles que a usarem com confiança…
Nesse instante, o quadro me pareceu girar e vi o reverso da medalha: no centro, o monograma da Santíssima Virgem, composto pela letra “M” encimada por uma cruz, a qual tinha uma barra em sua base. Embaixo figuravam os Corações de Jesus e de Maria, o primeiro coroado de espinhos, e o outro, transpassado por um gládio. Tudo desapareceu como algo que se extingue, e fiquei repleta de bons sentimentos, de alegria e de consolação.
Santa Catarina dirá, mais tarde, a seu Diretor Espiritual ter visto as figuras do verso da medalha contornadas por uma guirlanda de doze estrelas. Tempos depois, pensando se algo mais devia lhes ser acrescentado, ouviu durante a meditação uma voz que dizia:
– O M e os dois corações são suficientes.
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